O pecuarista brasileiro está ciente da agregação de valor que pode obter com a carne bovina que produz e comercializa, usando o arsenal de dados e informações levantado nos últimos vinte anos pelo trabalho das empresas de certificação, dentro do Sistema de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (SISBOV). O sistema foi criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como ferramenta de controle sanitário e fiscalização das propriedades rurais que cumprem protocolos internacionais e desejam exportar para mercados mundiais mais exigentes, como a União Europeia.
Esta foi a principal mensagem transmitida pelo Vice-Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Certificação (ABCAR), Aécio Flores, durante entrevista exclusiva concedida nesta semana ao programa Tatersal, do Canal Terra Viva – TV Bandeirantes, comandado pela jornalista Andréia Fogaça. “Foi um processo árduo, uma batalha forte para adaptação da rotina de trabalho dos pecuaristas às normas exigidas pelos mercados internacionais mais exigentes. E o produtor quer e merece ter mais ganho com isso. As empresas de certificação atuam para termos mais empreendedores rurais fazendo rastreabilidade do rebanho e certificando sua produção. É um produto muito importante para o Brasil”, defendeu Aécio Flores.
A ABCAR foi criada no início de 2019 e congrega 90% das empresas do setor, incluindo os produtos orgânicos e a maioria dos fabricantes de equipamentos e acessórios. A entidade tem o propósito de erguer uma representatividade abrangente das empresas do setor, que trabalhavam atualmente muito isoladas. “O objetivo é representarmos as empresas junto aos principais órgãos da pecuária brasileira. Hoje, conseguimos ter uma posição clara ao lado da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Temos cadeiras nas Comissões de Pecuária e Produtos Orgânicos, viemos para somar e mostrar ao publico que temos um processo de rastreabilidade forte e sério dentro do país. Quando falamos em certificação de bovinos estamos falando de produto vendido aqui dentro e no exterior. Vamos mostrar que a rastreabilidade e a certificação são importantes para todos os consumidores, do Brasil e do mundo inteiro”, acrescentou.
O dirigente da Associação também apontou que o número de propriedades rurais certificadas dentro do Sisbov já foi maior e que o banco de informações é usado incipientemente no mercado interno brasileiro. As empresas certificadoras têm, atualmente, perto de dois mil clientes que exportam carnes para a Europa “O Sisbov acaba sendo visto como mais atrativo para a exportação, para a União Europeia, que tem um patamar mais alto de qualidade de carne. Mas tanto o mercado brasileiro como o internacional vão fazer mais exigências, pedindo garantias de alimento de qualidade e origem comprovada e certificada. Principalmente neste momento de pandemia. E no mundo inteiro as exigências vão crescer, principalmente sobre temas como desmatamento e queimadas. Aliás, estas são demandas que as certificações já controlam em termos de check list, mas não colocam em ação simplesmente porque não são exigidas. Quer ver um desafio importante? O Reino Unido, que deixou a União Europeia, quando voltar ao mercado de carne bovina internacional, vai pedir mais exigências sobre o produtor e toda a cadeia produtiva”, alertou.
Aécio Flores ainda relembrou outras possibilidades da pecuária brasileira acessar mercados externos exigentes da proteína vermelha, como a Cota Hilton, que envolve cortes de carne bovina fresca ou resfriada, sem osso, de alto padrão, oriundos de animais inteiros, de 18 a 24 meses, com apenas dentes de leite, ou animais castrados ou fêmeas de 25 a 36 meses de idade com até quatro dentes incisivos, e alimentados exclusivamente a pasto até os 10 meses de idade. E a Cota 481, que abrange animais terminados com dietas mínimas de alta energia, conformação de 18 cortes, ausência de hematomas, idade abaixo dos 30 meses e bom marmoreio.
“A Cota Hilton é interessante. Um ganho a mais que o Brasil tem, mesmo sendo apenas 15% do total, o que dá menos de 10 mil toneladas. Mas não conseguirmos atingir a metade de nossa parte da cota. Já a 481, que é um protocolo comercial, estamos perseguindo, lutando para o Brasil se enquadrar e entregar mais valor à cadeia produtiva da carne bovina brasileira. É uma questão de planejamento da cadeia como um todo, usar o benefício e fazer chegar até o produtor final. Estamos atrás dessas metas, ainda caminhando a passos lentos para atender a demanda. O MAPA está muito ativo na abertura de novas portas para compradores da carne brasileira. Porém, a questão é que temos uma estrutura que precisa caminhar junto com a posição do Ministério. Temos um banco gigantesco de informações rastreadas e usamos pouco. Identificamos 100% do produto exportado. E 100% do produto consumido é amostrado. Precisamos fortalecer isso, criar um ambiente positivo no processo para o Brasil abrir mercados e os frigoríficos atenderem os mercados do mundo inteiro. O que fazemos é bom. O processo de rastreabilidade e certificação é para dar segurança a todos os elos da cadeia. Da fazenda à mesa do consumidor”, concluiu Aécio Flores.
Acompanhe a entrevista:
https://tvterraviva.band.uol.com.br/videos/16903669/tatersal-certificacao-e-rastreabilidade-de-gado