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ABCAR preparada para um 2022 desafiador da Pecuária!

A Associação Brasileira das Empresas de Certificação por Auditoria e Rastreabilidade (ABCAR) está se preparando para atuar em um novo protocolo para a Pecuária Brasileira, que deve ser lançado no primeiro semestre de 2022. A entidade trabalha na estruturação do IDBOV, um sistema de informações que estava a cargo da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). A ideia é ter um conjunto de dados e números mais simples do que o atual Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (SISBOV), que, atualmente, garante a comercialização de carne bovina para mercados que exigem identificação individual dos animais. “O protocolo, hoje com a CNA, será um dos focos de atuação dos associados da ABCAR. É uma aposta em suprir outros mercados que precisem de rastreabilidade, fora do âmbito do protocolo EUROPA. O IDBOV é mais simples de ser executado pelo produtor, vai exigir apenas uma vistoria anual, utilizar a numeração oficial que rege hoje os nossos sistemas, porém dando as garantias de rastreabilidade que precisamos. Seja para animais indiretos, para a China ou qualquer outro mercado que exija garantias de rastreabilidade e sustentabilidade. Que se consolida como grande desafio do setor para os próximos anos, que consiste em monitorar outros aspectos da propriedade, não só do animal, mas de onde o bovino está sendo produzido”, esclarece Aécio Flores, Vice-Presidente da ABCAR.

O dirigente enfatiza a importância de implementar essas outras ferramentas de controle, usando dados públicos que fornecem transparência ao processo de avaliação, facilitando e agregando valor ao produto, além de mostrar que a propriedade do criador não atua com desmatamento, não utiliza trabalho escravo, não produz carne bovina em área indígena e nem ilegal. “E o principal é esclarecer que não é difícil entregar isso ao produtor. 2022 vai ser um período desafiador, vamos ter muito trabalho pela frente”, acrescenta.

Aécio Flores destaca o ânimo do segmento dado pela volta da China como importador da carne bovina brasileira, depois de três meses de embargo nas compras devido a casos de ‘Mal da Vaca Louca’ atípica, detectados em Minas Gerais e Mato Grosso. “Os chineses voltam a comprar, mas podem fazer isso de um jeito diferente. Existe um acordo sanitário entre os dois países que tem como base a exigência de apenas animais com, no máximo, trinta meses. Mas como o Brasil vai garantir a idade do bovino sem identificação individual? O mercado especula que os chineses podem baixar a idade mínima de bovinos abatidos comercializados para 24 meses, que é o prazo máximo da GTA (Guia de Trânsito Animal) nacional. Depois disso, a GTA só trata de bovinos com 24 a 36 meses. Temos que aguardar se haverá novas exigências para a retomada dos embarques. Outra coisa é que eles podem não voltar com os mesmos volumes expressivos de antes, quando importavam até metade dos embarques a cada mês, já que estão recuperando a produção de carne suína aos poucos e ficando menos dependentes da proteína internacional”, explica.

Outro alerta do Vice-Presidente da ABCAR é a necessidade cada vez mais urgente de a cadeia produtiva investir em identificar, rastrear e certificar o rebanho que dá origem ao alimento exportado. “O Brasil se esforçou bastante em conquistar novos mercados nestes três meses sem os chineses, porém sem muito sucesso. Os parceiros mais interessantes, Japão e Coreia do Sul, por exemplo, são bem fechados para a nossa proteína. Precisaríamos ter muito mais controle sanitário para conquistá-los. A Rússia chegou a embargar nossa carne, os árabes compraram menos e a arroba teve queda expressiva aqui dentro. Importante foi a União Europeia, que aumentou as compras justamente por termos o SISBOV, com regras claras e definidas. E os europeus são o nosso principal mercado justamente por causa de parâmetros de exportação. E o terceiro maior mercado em receita, que deixa um valor agregado muito expressivo. Quando tinha a China na plenitude, as empresas de certificação eram muito questionadas sobre a rastreabilidade. Foi um momento difícil para as empresas. Mas o embargo virou o jogo, já que a União Europeia, ao lado dos EUA, passou a comandar. Ganhamos importância na cabeça de alguns produtores, pelo menos daqueles que têm a gestão mais profissional. O que temos que aprender com o episódio chinês é que os europeus permaneceram navegando mesmo no mar revolto. Logo, temos que proceder igualmente com os outros parceiros. É mais seguro e lucrativo para todos nós”, aponta.

A grande expectativa da ABCAR para 2022 é uma procura maior por certificação. Mas com exigências adicionais. “Grandes redes de varejo já estão atrelando a compra de nossa carne bovina a questões como desmatamento. E aí não é uma questão apenas do animal. Logo, temos que ampliar nossa atuação para temas como o cuidado com a fazenda, o desmatamento, as áreas protegidas, a situação social dos trabalhadores, a transparência de nossos dados. Temos que fazer essa lição de casa. Estamos discutindo muito esses assuntos na Câmara Setorial da Carne, mas isso ainda não pegou entre os pecuaristas como deveria. Essa situação precisa mudar”, observa Aécio Flores. O executivo ainda insiste na tecla de que a cadeia produtiva poderia ter mais segurança com o produto que vende. Principalmente, os criadores. “Rastreabilidade não é custo. É investimento, com retorno garantido, um processo de maturidade do negócio. O pecuarista vai ser remunerado por isso. É entender que, quando a indústria compra um animal rastreado e certificado, é mais segurança para o negócio dele, para a propriedade dele. Esse é o grande aprendizado”, aponta. Tanto que, no SISBOV, o setor amargou uma queda de 21% nas propriedades certificadas em 2021. “O que era pequeno, em nossa visão, ficou ainda menor. O que estamos querendo passar à cadeia toda é que ações precisamos adotar para melhorar os processos, os resultados de nosso negócio. Para todos. Logicamente, com a ajuda do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Dando segurança aos produtores. É um processo de capacitação, o produtor no campo, atuando com entendimento pleno das regras, usando bem o protocolo, diminuindo os problemas que ocorrem durante o processo todo”, orienta.

Já na área dos produtos orgânicos, 2021 foi um período extremamente positivo. “É uma área em que predominam os protocolos privados. O MAPA só monitora os processos. O governo regula, mas não atua. Quando vem um comprador externo interessado pedir por auditoria, já usa empresas privadas, os protocolos de negócio direto entre duas partes. Por isso, é um setor que vem crescendo muito”, fala Aécio Flores. Que complementa: “No geral, os bons ventos de 2022 virão dos recados dados pela Conferência Mundial do Clima, a COP26, realizada no fim do ano. Diminuição na emissão de metano, sustentabilidade da produção, recuperação de pastagens, controle do desmatamento para captura de carbono e rastreabilidade. São os temas de casa que o Brasil trouxe de lá. E precisamos de rastreabilidade para dar mais segurança ao mercado externo. Temos que ficar de olho nas ações do MAPA neste sentido e na atuação de todos os elos da cadeia produtiva. 2022 vai ser um ano de muitas emoções”, conclama o executivo da ABCAR.

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