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Articulista da AgroRevenda mostra drama belga

Novo texto de Jogi Oshiai, articulista da Plataforma AgroRevenda, sócio da eLO Consultoria, sobre a Pandemia do Coronavírus, direto de Bruxelas.

O Covid-19 continua ganhando terreno no mundo apesar dos incomensurávies esforços da comunidade internacional no seu combate. Mais de 34.000 pessoas morreram enquanto que mais de 732.000 infecções foram confirmadas em pelo menos 177 países e territórios. Felizmente, mais de 154.000 pessoas sararam do coronavírus. E, aqui na Bélgica, país de 11,3 milhões de habitantes, temos 11,9 mil  casos e 513  mortes. Portanto, apesar de um número ainda baixo de contaminação, o Palácio – aqui tem Rei – e os nove partidos políticos adotaram uma “trégua” (bom senso, um dever cívico.) por tempo indeterminado para lutar contra o inimigo comum: coronavírus. Quase todos os habitantes deste pequeno país, de cerca 30,6 mil km2, têm conhecimento de que não existe uma “unidade nacional” (flamengos de um lado e francófonos de outro) mas, em função da excelente atuação das autoridades competentes, inclusive da classe política, tem um número de infetados relativamente baixo, apesar de vizinha da França e da Alemanha, onde se registram altas taxas de contaminação.

Aqui neste país de Jacques Brel, de cerveja, marisco, batata frita e pralines (chocolates deliciosos), desde o início, a Bélgica não tentou identificar onde iniciou a cadeia de infeção no país, preferindo fazer testes apenas aos pacientes que já tinham sintomas do Covid-19. As autoridades belgas tentam manter uma curva baixa de novas contaminações por meio de isolamento social da população, desde o dia 18 de março último, com o objetivo de evitar eventualmente o colapso na capacidade hospitalar como aconteceu na Itália e está acontecendo também em outras partes do mundo.

Vale salientar que a Bélgica tem um sistema de saúde de excelente qualidade por todo o seu território, que garante uma boa margem de manobra para lidar com esta crise, mas, mesmo assim, em função da experiência traumática, especialmente da Itália, o governo belga estabeleceu que as intervenções médicas não urgentes deviam ser canceladas e que era fundamental aumentar a aquisição de mais ventiladores e máscaras para o corpo médico.

A Primeiro Ministro belga do atual governo de gestão – lembro que a Bélgica está sem governo desde dezembro de 2018 – com o apoio das três Regiões (Flandres, Valônia e Bruxelas-Capital) e das três Comunidades (flamenga, francófona e germanófona), tem conduzido esta crise com medidas severas, rigorosas e quase que drásticas. A crise política está radicalmente em segundo plano, para não dizer que ela desapareceu das manchetes da grande mídia. Diante da pandemia, há esperança de um novo início na política deste pequeno país que deveria servir de modelo para “políticos” brasileiros que tentam aproveitar da atual crise sanitária para armar um golpe contra o interesse do nosso Brasil !

Antes de concluir, recordo que o  Brasil não é nem de perto os Estados Unidos e assim, embora existam muitas opiniões divididas a respeito do isolamento, que é uma solução lógica para o achatamento da curva de contaminação, eu ressalto que que o isolamento social tem de ser uma solução de curtíssimo prazo no Brasil, levando em consideração o consequente empobrecimento da classe mais desfavorecida, além da sequela que vai deixar no nosso sistema de saúde, que depende diretamente de investimentos públicos. Portanto, embora o isolamento social seja necessário, no Brasil, infelizmente, temos que adotar o isolamento vertical ainda que seja estadual, regional ou municipal. O isolamento horizontal nos levaria a um colapso total ! O Brasil não pode e não deve parar!”.