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Carta Gestor – Fazenda lucrativa precisa de liderança e cerveja

por Antonio Chaker Neto, da Inttegra – Instituto Terra de Métricas Agropecuárias

Estamos nas análises finais do benchmarking de 2017 do Instituto Inttegra de métricas pecuárias e é estarrecedora a diferença de lucratividade que há entre as fazendas “top rentáveis” quando comparadas à média das que praticam a mesma atividade em sua própria região. Ainda vamos apresentar os números em novembro, mas antecipo que elas lucram cinco vezes mais.

Em comum, independentemente da região, elas têm um propósito de trabalho que move toda a equipe. Elas buscam alcançar algo nobre, concomitantemente às metas financeiras. Por esse motivo, gostaria de aprofundar-me um pouco mais nesse tema e abordar o papel do líder para incutir o propósito em seu grupo, transformando a cultura da comunidade local e sendo um guia ao delegar.

O papel da liderança está em garantir o rumo, bem como as condições de trabalho em si, como estrutura, ferramentas, remuneração, capacitação e que a empresa tenha um propósito.

Cada vez mais, as novas gerações trabalham mais por um propósito do que pela função. Eles querem, realmente, mudar o mundo ao seu redor. Trabalhar pelo fato de cumprir uma tarefa não traz realização.

Dentre os exemplos de propósito podemos citar a produção do bezerro mais pesado da região ou a carne com melhor qualidade dentre os pares; ter implantado um sistema de criação com bem-estar ou mudar as práticas conservacionistas.

O líder que consegue incutir um propósito em sua equipe planta a semente do espírito de comunidade, pois todos se identificam e caminham para o mesmo fim. Essa comunidade é criada quando há comunicação, transparência, capacidade de ouvir e corrigir sem expor. Ela reflete no orgulho de vestir aquela camisa e na ajuda mútua da equipe. Quando visitamos uma fazenda em que as pessoas se ajudam, nitidamente, ela funciona muito melhor.

O perigo está em “delargar” – Ao analisar, ainda, o que os líderes das fazendas mais rentáveis fazem de diferente, percebemos que o foco precisa estar na execução. Sem a execução, nem o melhor projeto do mundo se concretizará!

Quando a execução não cumpre o planejado, na maioria das vezes, o erro não está em quem executa, mas em quem manda. O líder precisa delegar as tarefas e não “delargá-las”, ou seja, simplesmente repassá-las à frente. Ao solicitar a tarefa ele deve mostrar o caminho e criar condição para que este seja percorrido adequadamente. Quando ele delega, ele define o que quer que aconteça, esclarece as características positivas e negativas; debate como deve ser a execução e os atributos de sucesso.

Explicar, por mais que pareça óbvio, alinha o pensamento e traz transparência, mesmo entre velhos conhecidos. E para que se garanta a execução, a conversa sempre deve ter duas vias.

A pergunta chave é “Qual é sua opinião?” e o estabelecimento conjunto de prazo. O líder precisa conhecer quem é quem para delegar de forma correta. Saber as habilidades de cada um e como comunicar-se de forma personalizada. Também, é preciso ter senso de realidade, com equilíbrio entre o que é possível fazer no prazo estabelecido, sem ser pessimista ou otimista demais.

Com esses combinados, fica fácil de monitorar o que está sendo cumprido, garantindo que a execução esteja dentro dos atributos necessários para o sucesso do projeto. Nessa hora, entra a cerveja que menciono no título.

Se você pensou que eu iria recomendar uma churrascada no final de cada tarefa cumprida, está enganado!

O que recomendo é seguir a lição da indústria cervejeira, cujo segredo está na execução e no monitoramento constante. Chega a ser insano, pois a checagem de metas acontece no período de horas. Acredito que não precisamos de uma periodicidade tão curta de verificação, mas recomendo o monitoramento semanal para a pecuária.

E, antes que você se tranquilize, antecipo que não funciona aquela conversa no pé da cerca sem papel nas mãos ou quando o pecuarista liga para o líder da fazenda e diz: “Está tudo bem?”. Isso não é monitoramento. O monitoramento deve ser feito em reuniões semanais para verificação do cumprimento das tarefas estabelecidas na semana anterior e definição de novas tarefas para a semana seguinte. Assim, conferem-se os combinados e tomam-se decisões em conjunto. Com esse raio-x, o líder sabe quais pontos e pessoas precisará acompanhar mais de perto, ajustar ou modificar. Essa rotina deve ser cumprida rigorosamente com dia estabelecido, ou seja, toda segunda ou todo sábado.

Para garantir as reuniões, o papel do líder é fundamental. Não há outra receita! Confidencio que as “top rentáveis” conseguiram superar a fase de desistência das reuniões e mantêm os encontros, de forma sagrada, em seus calendários.

Apesar do planejamento quadrienal dos projetos, seguindo o ciclo pecuário, a fazenda acontece é na semana, no dia a dia. É uma grande jornada de pequenos passos cujo caminho poderá ser encurtado com o propósito estabelecido, espírito de comunidade e a execução com foco no resultado. Depois, até dá para tomar uma cerveja.

*Do Portal da Scot Consultoria