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5º CNMA termina com participações do exterior

 

Profissionais de diferentes países falaram sobre as perspectivas para o agronegócio nos próximos anos sob os pontos de vista econômico, tecnológico e social.

A programação do último dia do 5º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio contou com três mesas-redondas internacionais, que reuniram profissionais de diferentes países e segmentos para discutir as perspectivas para o agronegócio nos próximos anos, dos pontos de vista econômico, tecnológico e social.

A primeira mesa-redonda foi moderada pela jornalista especializada em conteúdo de Economia e Agronegócio, Alessandra Mello, que tratou do tema “Comércio Internacional – Perspectivas para 2020/2021, com a participação do jornalista e escritor, José Luiz Tejon.

 A CEO da Mosaic Fertilizantes, Corrine Ricard, ressaltou a importância da agricultura para o Brasil e a contribuição do país para o PIB mundial do setor, em torno de 25%. “No pós-pandemia acreditamos que a agricultura será um setor ainda mais essencial, trazendo empregos sustentáveis e movimentando a economia como um todo”. Ela explicou que a demanda por fertilizantes está crescendo no mundo todo e o Brasil está entre os mais requerentes, por isso acredita que haverá grandes oportunidades.

“A proporção entre os preços de grãos e fertilizantes no mercado pode trazer margens de grande sucesso se forem travadas para os produtores e até chegar a recordes em 2021. “Assim é preciso ter cautela em relação aos riscos e especulações. Considerando a venda de grãos, a demanda pelos fertilizantes aumentou consideravelmente no último ano, os preços subiram, apesar de ainda serem acessíveis, mas é preciso prestar atenção com relação a essa proporção”, alertou a executiva.

Para o presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa, apesar da tragédia que o mundo enfrenta este ano, 2020 foi fantástico para o agronegócio, principalmente no Brasil. “Como Corrine disse, a proporção da venda do grão e da compra de fertilizantes foi melhor do que jamais foi antes e isso foi excelente para a agricultura no Brasil em geral. Com essa posição fantástica, eu diria que, ao passarmos para um cenário diferente em 2021, o produtor precisa estar ciente, não especular e não vender os grãos com antecedência para não travar as vendas”.

A presidente da Plataforma de Negócios de Proteção de Cultivos da Corteva Agriscience, Susanne Wasson comentou que há certos problemas que os agricultores brasileiros precisam superar para manter suas operações rentáveis, e para isso é preciso pensar como um todo no agronegócio, no comércio e na segurança alimentar.

Segundo ela, a Corteva investe muito para criar novos produtos e soluções aos produtores brasileiros e quer contribuir com o crescimento econômico do agronegócio do Brasil. “No Nordeste, temos uma iniciativa chamada ‘Prospera’, que fornece tecnologia para pequenos produtores de milho e silagem. O nosso objetivo é atingir de 50 a 100 mil pequenos produtores nos próximos cinco anos e expandir esse programa, que é uma prova do nosso comprometimento para ajudar as comunidades agrícolas a florescerem”.

Ela reiterou que produtores no mundo todo precisam ter acesso confiável à tecnologia, por isso se diz a favor de um sistema regulatório previsível. “Incentivamos produtores, a indústria e os consumidores a favorecerem o consumo de tecnologia, que ajude a produtividade e a lucratividade das propriedades rurais. Não há dúvidas de que o Brasil é um concorrente formidável no mercado mundial, que representa uma parte significativa das exportações. Por isso, queremos continuar a ser parceiros do país”.

Mercado argentino
Diretamente da Argentina, a economista, fundadora do Grupo Los Grobos e presidente da FLOR (Fundação para Liderança e Organização Responsável), Andrea Grobocopatel, apresentou alguns aspectos do mercado local, que espera uma queda de 20% no seu PIB em decorrência da pandemia.

No entanto, Andrea evidenciou que o agronegócio foi um dos setores menos afetados, apesar da quarentena extensa, que afetou as produções, do clima e das flutuações de câmbio, as quais tornaram a situação do país difícil perante as exportações no panorama nacional.

Na Argentina, segundo Andrea, as mulheres são donas de 20% das empresas de pequeno e médio porte exportadoras. Como são menores, também foram menos afetadas por custos fixos internacionais. Segundo a FAO, 30% da agricultura no Caribe e América Latina é administrada pelas mulheres. “Temos que reconhecer o papel crucial que as mulheres têm na agricultura para a segurança alimentar, para a nutrição, e também no manejo da terra e na pesquisa. Nesse contexto, nós, mulheres, estamos na vanguarda de resposta à pandemia”.

“Pela nossa independência financeira, temos que ser claras sobre nossa posição pessoal e profissional e ir atrás de nossos ideais com paixão. Para isso, precisamos saber dizer ‘não’ e estarmos focadas em aprender com tudo, até com a pandemia, lutarmos para eliminar os preconceitos com as mulheres, aprendermos a negociar o nosso lugar nas organizações e até nossos salários. Acreditarmos em nós mesmas é melhorar todos os dias a sociedade”

Inovação e o futuro da agricultura
A segunda mesa-redonda do dia trouxe o debate sobre as inovações em máquinas e equipamentos e as perspectivas do futuro da agricultura, com o tema ‘Agrievolution’. “Esta é uma oportunidade interessante de debatermos a mecanização em nível mundial a fim de podermos olhar de uma forma diferente para o agronegócio, evidenciando não só como o setor responsável pela produção de alimentos, fibras e bioenergia, mas também como um agente de transformação”, destacou a presidente da Guarany, Alida Maria Fleury Bellandi, que mediou o painel.

Para o Chairman of the Agrievolution Alliance, Ignácio Ruiz, o setor de máquinas e implementos deve estar atento às questões de segurança no processo de desenvolvimento das novas tecnologias para que elas ofereçam melhores condições de trabalho aos produtores. “Nossa missão é ajudar o agricultor a produzir mais, por meio de tecnologia, capacitação, programas de inclusão dos jovens no mercado de trabalho e, principalmente, atenção às normas de segurança”.

“É possível produzir produtos melhores ajustando as tecnologias às necessidades locais, como equipamentos que considerem a presença da mulher no campo. Segundo a FAO, com melhorias nas adaptações de equipamentos, propriedades com mulheres no campo poderiam aumentar em até 2,5% sua produtividade”, evidenciou a CABI Brazil Centre Director & Plantwise Regional Coordinator, Yelitza Colmenarez.

Neste sentido, o vice-presidente New Holland Agriculture América do Sul, Rafael Miotto destacou o que, segundo ele, é um dos grandes desafios do setor. “Independentemente do tamanho da propriedade ou do que é cultivado, todos os agricultores precisam de tecnologia. Nosso trabalho deve se pautar em fazer com que essas inovações cheguem ao homem do campo, atendendo suas demandas, mas com um preço mais acessível e com sistemas mais fáceis de utilização para que possam desfrutar de todo o seu potencial”.

“Se a tecnologia desenvolvida não oferecer sustentabilidade, eficiência, maior produtividade e melhor qualidade ao agricultor podemos afirmar que ela não tem um objetivo para existir. A inovação precisa ter um impacto no meio, oferecer soluções ao seu público”, acrescentou o cônsul de Israel, Tsahi Reich.

Movimento HeForShe
A mesa-redonda “Eles Por Elas” foi inspirada no Movimento HeForShe de Solidariedade da ONU Mulheres pela Igualdade de Gênero e mediada por Roberta Paffaro, diretora de Desenvolvimento de Mercado América Latina do CME Group, que reforçou a importância da inserção das mulheres nas empresas do agronegócio. “Juntos podemos ir muito mais longe. Agora, muitas mulheres estão liderando fazendas. O meio corporativo também tem que olhar para essa questão. O campo está olhando para isso”.

A psicóloga Aline Dotta, mestre e especialista em Gestão de Pessoas, explicou que a relação entre homens e mulheres passa pelo reconhecimento das potencialidades individuais. “Não somos melhores nem piores; temos potencialidades diferentes, assim como a questão das gerações na propriedade rural e nas organizações”.

O presidente da Yara Brasil, Olaf Hektoen, reforçou o papel das empresas na promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres. “Precisamos ajudar a abrir as portas. Hoje, temos uma participação menor de mulheres e não deve ser assim. Precisamos das mulheres para podermos crescer como empresa”.

O signatário do Movimento HeForShe, Rodrigo Santos, head da divisão Crop Science da Bayer para a América Latina contou que a empresa realizou treinamentos sobre vieses inconscientes com todos os líderes. “Muitas vezes o que você ouve dos homens é ‘eu não vejo diferença entre homens e mulheres, são as mesmas oportunidades’, e isso não é verdade. Não se tem as mesmas oportunidades”.

Adriana Carvalho, diretora associada de Diversidade & Inclusão – Cone Sul da América Latina na EY, destacou a evolução da inclusão das mulheres no mundo empresarial. “Quando olho esse núcleo de empresas, os avanços estão acontecendo, vejo que estão indo um pouco mais rápidos do que o mundo em geral. O convite é para andarmos mais rápido para a frente. Precisamos que muito mais empresas participem desses avanços”.

A diretora do segmento de Agronegócio na Senior, Cíntia Leitão de Souza, acredita que ainda há muito o que se fazer em relação à diversidade nas empresas. “De fato, há uma mudança do papel da mulher na questão das políticas e dos códigos de ética, mas quando olhamos a diversidade em si, temos um longo caminho a ser percorrido”. A questão cultural no agronegócio, segundo Cíntia, ainda é muito forte e é necessária uma mudança crescente para o setor. “Temos que sair de nós mesmos e nos entregar a entender, acolher e orientar o outro. Esta é a melhor forma de promover a mudança cultural e de diversidade no nosso espaço e irradiar isso dentro das nossas organizações e na própria sociedade”.

Último dia
O último dia do CNMA contou ainda com a participação de Ana Helena de Andrade, líder do Comitê Institucional do ConectarAGRO, associação pioneira no mercado que visa promover tecnologias abertas em todas as áreas rurais do país, formada pelas empresas: AGCO, Climate, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, Tim e Trimble.

Foi realizada também uma homenagem ao Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA) pelos seus 10 anos de atuação. No estúdio, representando todas as associadas estavam a presidente do NFA Maria Antonieta Guazelli e a vice-presidente, Maria Cristina Bertelli.

Para fechar o evento, o jornalista e escritor José Luiz Tejon, recebeu a presidente do Conselho do Magazine Luiza e presidente do grupo Mulheres do Brasil, Luiz Helena Trajano, que participou de forma virtual para deixar uma mensagem a todas as mulheres do agronegócio.