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Pecuária: exportação e consumo

Em 2016, é esperada sustentação de preços no mercado interno e aumento de volume e faturamento com vendas ao exterior

Os impactos da forte estiagem no Centro-Sul do Brasil em 2013 e 2014 devem cessar em 2016, com os índices zootécnicos do setor pecuário voltando ao normal e favorecendo alguma recuperação da oferta de animais. Ao mesmo tempo, as perspectivas macroeconômicas brasileiras não são das melhores. Apesar disso, a pecuária bovina de corte pode considerar certa sustentação do consumo de carne por parte dos brasileiros em relação ao visto em 2015, respaldada no hábito consolidado e também no desempenho promissor no mercado externo.

Com a renda menor, a demanda por proteínas mais baratas que a bovina pode aumentar, mas situações passadas e estudos econômicos evidenciam a versatilidade da própria carne bovina para se manter presente nas refeições. De forma agregada, mesmo com vários indicadores econômicos apontando dificuldades para o consumidor, o volume demandado no País pode se manter em relativo equilíbrio com o do ano passado. Ou, ainda que a demanda seja forçada a se retrair, há de se considerar que a melhora da oferta que pode ocorrer em 2016 ainda não seria significativa.

Já para as exportações, fundamentos indicam aumento de volume e de faturamento. Com o crescimento econômico dos Estados Unidos, sua demanda interna se fortalece e, em alguma medida, diminui seu excedente exportável, sem dizer da recente reabertura para a carne in natura brasileira – ainda que não sejam esperadas grandes vendas para aquele país, a medida tem repercussão positiva ao Brasil no mercado internacional. A melhora da economia europeia, no mesmo sentido, entra na lista de possíveis estímulos às exportações brasileiras de carne de maior qualidade.

Muito significativa é também a reabertura da China, que voltou a comprar a carne bovina do Brasil em 2015, após três anos de embargo. Segundo dados da Secex, em outubro, este país já foi o segundo principal destino dos embarques de carne bovina brasileira. A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) estima que os embarques àquele país somem 200 mil toneladas em 2016.

Por outro lado, dificuldades enfrentadas por compradores tradicionais, como Rússia e Venezuela, devido aos baixos preços do petróleo, podem restringir os volumes exportados pelo Brasil. O novo governo argentino também está retomando a participação de seu país no comércio internacional e isso pode significar a perda de alguns segmentos que vinham sendo atendidos por empresas brasileiras. Porém, caso as exportações argentinas avancem muito bem, pode também ser aberto espaço mesmo para vendas da carne brasileira naquele país.

Do lado da produção, pode-se esperar alguma melhora na oferta de bezerro e boi magro em relação aos últimos anos. Com o El Niño elevando as chuvas em parte do Centro-Sul, as pastagens de muitas regiões pecuárias têm sido beneficiadas e a produção de carne também pode ser recuperar já em 2016.

Na BM&FBovespa, os próximos vencimentos do boi gordo apontam valores acima do atual fechamento no físico. Além da perspectiva de receita, confinadores vão definir seus investimentos de olho também no mercado de grãos. Com câmbio projetado acima de R$ 4/dólar, o milho e a soja brasileiros seguem competitivos e suas exportações tendem a serem ainda maiores, o que sustentaria elevados os preços internos.

Haja folga de um lado ou aperto de outro, o fato é que as estruturas profissionais de confinamento que vêm sendo implementadas no País requerem a continuidade das operações e ganhos por eficiência. Num ano como este, em que as tradicionais incertezas parecem ser ainda maiores que em outros réveillons, o importante é afinar o planejamento e produzir na medida certa, mas não esmorecer.

 

Imea

Demanda singela: De acordo com o varejo, o período de festas de fim de ano contou com uma demanda menor em comparação ao ano anterior, porém com uma receita maior devido ao preço elevado dos cortes, já que, mesmo com essa menor procura, o número de animais abatidos não foi suficiente para suprir plenamente
a necessidade nos açougues e supermercados. Em 2015, o número de animais encaminhados à indústria
foi 15,2% menor que em 2014. Esta é uma das explicações para a alta nos preços do varejo. Para se ter uma ideia, a média dos cortes no ano passado foi 16,6% maior que em 2014. Em 2016, a previsão do Imea
é de possível manutenção no número de animais abatidos, fato que, isolado, poderia contribuir para a manutenção ou até aumento dos preços. Desta forma a demanda se tornaria peça-chave para o futuro dos preços da cadeia como um todo.

A escala de abate iniciou 2016 bem abaixo
da média de dez/15. Na primeira semana de levantamentos do Imea, a escala diminuiu 32,2%, passando de 9,6 para 6,5 dias. Em dezembro, apesar de o volume de abate
no Estado ter diminuído quase 5%, grande parte dos animais foi encaminhada à indústria próximo ao período de festas, quando o consumo de carne tende a se intensificar, o que elevou consideravelmente a escala dos frigoríficos. Na entrada do ano, com boa parte do estoque de animais ainda em fase de engorda nos pastos, a relativa
dificuldade para encontrar animais terminados tende a continuar. Segundo previsão do Imea, o abate em 2016
não deve se alterar muito, confirmando ainda a tendência de escassez de animais.

Com isso, há espaço para o preço da arroba se valorizar, o que seria ótimo para os produtores, porém, como já mencionado, a demanda terá papel fundamental neste contexto

Fonte: Cepea e Imea