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Plataforma AgroRevenda com APCS 2020

Entidade reuniu profissionais da cadeia produtiva pela primeira vez no ano e analisou se o setor ‘Está pronto para quebrar barreiras?’

O Brasil vai firmar presença no mercado nacional e internacional de carne suína, mas precisa avançar muito em segurança alimentar, sanidade e comunicar-se melhor com a sociedade e os novos consumidores. O cenário foi apontado e debatido nesta sexta-feira de manhã, dia 21, em Campinas (PR), durante a primeira edição de 2020 da série ‘Workshop & Bate Papo’, promovida pela Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS) e Consórcio Suíno Paulista (CSP). O encontro reuniu perto de cem profissionais do segmento, entre gerentes, encarregados e proprietários de granjas filiadas à associação e ao consórcio, além de profissionais de empresas ligadas ao setor.

Foram cinco apresentações de especialistas que refletiram sobre o tema ‘Estamos prontos para quebrar barreiras?’ e propuseram uma análise sobre os desafios que a suinocultura brasileira deve enfrentar para produzir mais e melhor, exportar crescentemente e firmar uma marca de qualidade e segurança para os consumidores brasileiros e do exterior.

O suíno brasileiro viveu um 2019 muito favorável, com a indústria faturando US$ 12 bilhões, as granjas abatendo 45,8 milhões de cabeças, produção de 4,1 milhões de toneladas e a cadeia alcançando um Produto Interno Bruto (PIB) geral de R$ 19 bilhões. Resultado alavancado essencialmente por exportações em alta, que passaram de 700 mil toneladas pela segunda vez em toda a história, calcadas no apetite do consumo chinês, abalado pelos surtos de Peste Suína Africana (PSA). E pelo câmbio extremamente favorável. Mas, para sabermos se os frigoríficos do país estão prontos para conquistar novos mercados mundo afora, precisamos equilibrar pontos positivos e negativos. “Nossa indústria sofre com altos custos por causa da legislação, dificuldades tributárias, pressão global, bem-estar animal, grande diversidade de inspeção, pouco consumo interno de produto in natura, grande diversidade no volume de abate e no tipo de negócio, insuficiente grau de automação e problemas com disponibilidade de mão de obra e energia. Por outro lado, o animal ofertado pela granja melhorou bastante em qualidade e os abatedores atuam numa área que permite um mix de mais de trezentos produtos, o que facilita o caminho de conquistar novos consumidores. Para mim, fazendo um balanço, sou otimista, mas não podemos descuidar do foco em custos e cumprimento da legislação”, opinou Stephan Rohr, da empresa NeoConsulting e levado ao evento pela Trouw Nutrition.

Porém, para assumirmos esse protagonismo, temos que pisar fundo em questões vitais como a sanitária. Lisandro Haupenthal, Gerente de Nutrição de Suínos da Vaccinar, tratou do assunto e foi incisivo ao alertar que o Brasil tem vários problemas para mostrar-se ao mundo como um produtor gabaritado nesse quesito. “Nosso território não está inteiramente livre de várias doenças, como a Peste Suína Clássica. Sobre a Febre Aftosa bovina, que afeta o segmento, somos considerados livres, mas com vacinação. É verdade que avançamos bem nos últimos anos. A Estação Quarentenária de Cananeia, em São Paulo, para recebimento de animais e material importado, é um ótimo projeto. Bem planejado, executado e em pleno funcionamento. Mas é pouco. Temos que diminuir os riscos, proteger as granjas, investir mais em instalações adequadas, que afinal custam dinheiro, mas é um bom investimento”, ponderou. Lisandro ainda enfatizou que informação e transparência são tão necessárias quanto os projetos e as auditorias de biossegurança, além de monitoramento sanitário ininterrupto. “O isolamento das granjas, por exemplo, ainda não efetivamos com a devida gravidade. Precisamos avançar com as normas e os projetos sobre compartimentação, que abrange o isolamento das áreas produtivas sadias durante um surto. Sem falar na prevenção e vigilância. Veja o caso da PSA. O Brasil tem um único laboratório habilitado para exames envolvendo a enfermidade no país. Os Estados Unidos, por exemplo, tem 70. Também não podemos descuidar da formação das pessoas, que representa um bem maior para qualquer atividade profissional”, indicou.

Sebastião Borges, professor e Diretor da Tectron, mergulha ainda mais fundo nas tarefas que devemos cumprir. Analisando o tema ‘A nossa tecnologia está adequada aos desafios internacionais?’, ele dispara. “O planeta está pegando fogo. Coronavírus, PSA, Gripe Aviária. Não podemos fantasiar, temos que ser sérios. O mundo moderno já sabe e avisou o que deseja. Bem-estar animal, ambiência, genética, alimentação, sustentabilidade, fim dos antibióticos. O Brasil está muito lento quando falamos de inovação tecnológica e falta ação mais concreta do poder público”, adverte. Opinião compartilhada por Vladimir Fortes, da DB Genética Suína, quando trata de negócios. “Temos uma imagem internacional arranhada por causa de doenças. Principalmente devido à febre aftosa, que é o calcanhar de Aquiles da exportação das carnes brasileiras. Para piorar, somos péssimos negociadores. Precisamos de políticas mais transparentes, segurança alimentar e sanitária, só assim para construirmos uma comunicação eficiente. Não tem jeito, é urgente atender os mercados mais exigentes e temos competência para tanto, nossa indústria é capaz”, aponta.

Porém, Vladimir alerta que o tempo corre e não dá para esperar tanto. “A China, por exemplo, já está se recuperando do surto de PSA, e aprendendo a conviver com a doença, repondo matrizes. Eu vejo um cenário de crescimento para a cadeia brasileira nos últimos meses, mas o custo de produção não está deixando a margem recuperar-se com mais energia. Os produtores e as agropecuárias necessitam dominar financeiramente as suas granjas”, arremata.

Um debate que só faz sentido porque a cadeia existe e trabalha para atender, ao final, apenas um elo. “O novo consumidor quer saber o que compra, o que come, como a carne é produzida, se há sentido na cadeia que oferece o alimento para ele adquirir. E são muitos perfis de cliente, de várias gerações, cada uma valorizando atributos distintos. A sociedade mudou, as pessoas têm opinião formada sobre os alimentos e a produção de proteína animal. Precisamos de mais confiança delas sobre o que fazemos, como fazemos. É um trabalho forte de informar melhor a sociedade, ser claro, apresentar sites mais confiantes, dialogar dentro das mídias sociais e ter mais contato com os meios de comunicação”, aconselhou Juliana Ribas, Coordenadora de Produção da Agroceres PIC, que falou sobre como o segmento deve encontrar uma linguagem apropriada para dialogar com a sociedade.

O workshop da APCS ainda contou com a presença do professor, diretor da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e coordenador da Frente Parlamentar do Agronegócio Paulista, Ariel Mendes. Ele falou sobre as ações desenvolvidas em 2019 em favor do segmento e convocou a cadeia suína a dialogar ainda mais com os representantes do Agro Brasil nos parlamentos de São Paulo e do Brasil.

“Vivemos e trabalhamos dentro do Estado de São Paulo, que é o maior centro consumidor da carne suína produzida no país, perto de 70% do total. Logo, vivemos muito próximos dos clientes finais de nossa cadeia e entendemos a necessidade de nos comunicar com a sociedade. Até porque só somos procurados quando acontece alguma desgraça envolvendo nossas causas. Precisamos propagar o que fazemos com carinho, uma atuação empresarial marcadamente familiar. As granjas paulistas estão fazendo a lição de casa, estão envolvidas com processos de certificação, auditorias e intensa profissionalização. Estamos no caminho certo, no sentido apontado pelos excelentes especialistas que trouxemos à primeira edição do workshop em 2020”, avaliou Valdomiro Ferreira Junior, presidente da APCS.

O próximo encontro da APCS e CSP vai comemorar o aniversário de 53 anos da Associação. Um evento marcado para o dia 27 de março, também em Campinas (SP), no Hotel Premium, com mais uma edição do ‘Clube do Leitão’. Entrega do troféu Arnaldo Jardim, participação dos deputados ligados à Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) nacional e paulista, um show de humor com Matheus Ceará, do programa ‘A Praça é Nossa’, e um almoço com pratos elaborados exclusivamente à base de carne suína.

O Hotel Premium fica na Rua Novotel, 931, no Jardim Nova Aparecida, em Campinas (SP). E as inscrições dos interessados podem ser feitas pelo site www.apcs.com.br. Mais informações com a APCS pelo e-mail apcs@apcs.com.br e telefone (19) 3651 1233.

Fonte: Redação AgroRevenda

 

 

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