Números adiantados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicam que teremos o pior primeiro semestre dos últimos doze anos no abate de bovinos, com retenção recorde de fêmeas ditando o ritmo do jogo e de forma surpreendente. Os dados preliminares apontam que o total de cabeças abatidas em frigoríficos SIF no Brasil ficou em 10,28 milhões de cabeças no primeiro semestre de 2021, 6,75% abaixo do mesmo período de 2020. O que pode ocasionar o menor volume total dos últimos dezessete anos, uma redução considerável, certamente ajustada para atender a uma oferta cada vez mais enxuta no mercado interno.
O movimento impactou claramente os números divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) para as vendas externas nos sete meses deste ano. Os embarques registraram incremento de 8,5% no faturamento (US$ 5 bilhões) e queda de 3,3% (1.065.676 toneladas). No acumulado do ano, os destaques de aumento dos embarques ficam com os Estados Unidos, que cresceram 93%, Chile, Filipinas e Emirados Árabes Unidos.
“Vínhamos com um volume em crescimento nas vendas externas, e este ano mostrou claramente que o volume de abates de animais impactou até a exportação. Os números do primeiro semestre apresentaram a menor oferta de bois, consequentemente, um menor volume exportado em relação aos anos anteriores. No entanto, houve um melhor valor recebido por equivalente tonelada exportada. E os números de agosto mostram uma pequena retomada nas exportações. Espero que permaneça assim até o fim do ano”, analisou Sergio Ribas Moreira, Diretor do Serviço Brasileiro de Certificações (SBC), a empresa líder na Certificação Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos).
O executivo pondera, ainda, que os abates devem fechar 2021 com um número abaixo dos últimos dez anos. Por outro lado, Sérgio Ribas aponta que as compras dos importadores mais exigentes, que pagam a mais pela proteína vermelha brasileira, reagiram. “O segundo semestre será positivo para o mercado Europa. Já percebemos que os frigoríficos vêm fomentando a Certificação Sisbov e estão em busca de animais com características que atendam à Cota Hilton. Diante disso, vejo possibilidades de a cadeia se beneficiar com as oportunidades em atender a esse mercado. Indústria, produtor, insumos, mão de obra, todo mundo se beneficia. Os dados da ABIEC apresentam os números de exportações batendo em quase 55 mil toneladas neste segmento mais qualificado. China e Hong Kong seguem como líderes em volume e faturamento, mas, logo nas demais colocações, vêm os Estados Unidos, a Europa e o Chile”, detalhou o diretor do SBC. E o balanço verificado em julho comprova a opinião. As exportações caíram 1,4% em volume, ficando em 191,2 mil toneladas, mas com faturamento de US$ 1 bilhão, aumento de 21,1%, o melhor resultado mensal do ano, e preço médio total no período registrando alta de 31,8%.
No campo interno, a performance não é tão satisfatória. Apesar da queda na oferta de boiadas, o consumidor brasileiro está diminuindo o consumo de carne vermelha devido a alguns fatores, como aumento de preços, diminuição de renda e falta de emprego. “O mercado interno ainda está muito fragilizado. Com a inflação cada vez mais alta, o trabalhador vem perdendo o poder de compra. Hoje, para levar carne bovina para casa, ele necessita de uma receita até 40% maior. Por isso, o alimento ocupa um espaço menor no mercado interno e está cedendo espaço para outros derivados de proteína animal, como o frango, o suíno e os ovos”, concluiu Sérgio Ribas.