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ASBRAM debate ano desafiador para a suplementação mineral

As empresas de suplementos minerais utilizados na nutrição de rebanhos esperam um trimestre mais movimentado para recuperar parte da queda nas vendas verificada em 2022. Nos nove meses deste ano, o segmento comercializou 1,93 milhões de toneladas, um tombo de 6,7%. “O movimento negativo vem ocorrendo nos últimos 13 meses. Só houve um movimento positivo no mês de março. É sinal de contração mesmo”, afirmou Felippe Cauê Serigati, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV e consultor ligado à Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM) para análise setorial e conjuntural do mercado de suplementos minerais do Brasil. A perspectiva foi debatida na reunião mensal da entidade, em São Paulo, realizada na sexta-feira passada, quando mais de trinta representantes da indústria mergulharam em questões como o futuro da economia do país, as turbulências internacionais, geopolítica nacional e do exterior, os prognósticos sombrios para inflação, taxa de juros e crise energética nas principais nações do hemisfério Norte.

Outra preocupação examinada foi o percentual de animais suplementados que emergem das estatísticas da Asbram. Saldo de 76 milhões de cabeças em setembro passado, 3,6% menor do que em setembro de 2021. A diminuição sobre 2021 foi ainda maior se olharmos desde janeiro: 5,2% nos nove meses. “Observando os estados, existem números que ainda não consigo decifrar o que vem se passando. Ainda mais quando fazemos a conta de quanto cada animal é suplementado na média. Insumo comprado dividido pelo rebanho do Estado. Vemos Mato Grosso com 6,4%, 15,3 quilos por animal apenas. Paraná com 14,3% e Mato Grosso do Sul com 35%. Por enquanto, temos apenas pistas. Estamos no ciclo de retenção de fêmeas e o rebanho está crescendo. Mais de 3%. Para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já são 224,6 milhões de cabeças. O que, aliás, causa muita controvérsia. Precisamos estudar melhor tudo para termos um quadro mais claro”, concluiu Serigati.

Os profissionais também falaram sobre planejamento estratégico, evolução dos preços da carcaça bovina e as atividades desenvolvidas pelas entidades de classe dos ingredientes de base do Agronegócio. O encontro começou com uma rápida palestra do Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (ABISOLO), Clorialdo Roberto Levrero, que também é sócio-proprietário da Itale Indústria e Comércio LTDA. A entidade representa os fertilizantes orgânicos, especiais, organominerais, substratos para plantas, condicionadores de solo e biofertilizantes. O executivo adiantou como está o trabalho da ‘Coalizão’, o grupo formado por entidades do setor para defender os interesses da classe em questões como controle, impostos, bioinsumos, reforma tributária e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O grupo é integrado pela Abisolo, a própria Asbram, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANP), Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA) e Associação Brasileira de Defensivos Pós-Patente (AENDA). “Nosso objetivo é unir forças e ter um discurso unificado na defesa dos temas que são fundamentais para nossas áreas de atuação. Realizamos uma reunião por semana e debatemos ações coletivas, mas também itens que afetam um setor específico dos integrantes da Coalizão. Como a Reforma Tributária e o ICMS, que fundamentaram as primeiras posturas que adotamos”, explicou Clorialdo Roberto Levrero.

Na sequência, os participantes acompanharam a palestra ‘Planejamento estratégico como alavanca de performance dos Negócios’, com os profissionais de Administração de Empresas da consultoria markestrat group, parceria do Grupo Publique e da Plataforma Agrorevenda há anos, Fernando De Cesare Kolya e Tadeu Frangiotti. Eles trataram de mercado nacional e internacional no Agro, digitalização, as necessidades dos novos clientes e a importância da Gestão na condução dos negócios. “Existem pontos que são vitais para a sobrevivência das corporações hoje em dia. O mercado está em ebulição e é necessário evoluir sem parar. É imprescindível reconhecer o posicionamento da empresa, entender quem é o cliente final, criar valor para os produtos oferecidos e analisar como as tendências impactam nosso negócio e o que podemos fazer diante disso”, defendeu Tadeu Frangiotti.

Já Fernando Kolya mergulhou na Pecuária Brasil e destacou que a China vem aumentando as compras da carne bovina, o status sanitário dos produtos brasileiros está ganhando força e a bovinocultura segue recebendo novos produtores, mais profissionalizados, entrando na cadeia produtiva graças às tecnologias, como inseminação artificial e a integração com lavouras e florestas. “A velocidade das mudanças aumenta cada dia mais. As novas gerações, os hábitos, a presença crescente das mulheres, a revolução da digitalização. Tanto que 1,5 milhão de produtores e pecuaristas deixou a atividade por falta de profissionalização nos últimos vinte anos. E dezesseis mil fazendas de leite foram fechadas por ano em uma década. É preciso perseguir a eficiência máxima. O Agro tem um longo caminho na transformação digital. Os canais de distribuição têm crescido e se diversificado, incluindo as cooperativas. Por isto, para a Indústria, é preciso adequar a representação comercial com a Distribuição de Insumos Agrícolas e Pecuários. É aí que entra o planejamento estratégico: definição de grandes objetivos, quais mercados atuar, definir competências do negócio, pilares e planos de ação, acompanhamento dos projetos. Com planejamento de longo prazo”, reforçou Kolya.

As apresentações terminaram com a exposição do zootecnista Luiz Roberto Zillo e do pecuarista e economista Victorio Amoroso Neto, do Datagro Pecuária, um indicador com várias informações que envolvem a compra e venda de gado em dezessete estados e no Distrito Federal. E que está ligado à consultoria independente Datagro, que possui mais de 40 anos de atividade, com oito escritórios, sendo um nos Estados Unidos. “São dados em tempo real, E o nosso aplicativo, lançado há pouco mais de um ano. Já estamos com 4,2 mil usuários, 17 plantas reportando e 1.830 propriedades cadastradas. Sempre privilegiando os negócios mais recentes, relatórios e escalas para atualizar toda a Pecuária sobre valores e as condições da produção de carne e leite no país. Quase uma centena de negócios reportados a cada dia para levar muita informação, que beneficie a cadeia como um todo”, referendaram Zillo e Victório.

A avalanche de dados soa como música para os executivos que traçam cenários e vislumbram possibilidades de aumentar os resultados, fornecendo nutrição de qualidade para melhorar a entrega de carcaça e performance de rebanhos. “A gente trabalha bastante no escuro e informação de qualidade é o que mais precisamos”, apontou Juliano Sabella, Presidente da Asbram.

 A clareza sobre o que se passa no cenário político e econômico brasileiro e mundial ganhou força na segunda etapa da reunião da Associação. O professor Felippe Cauê Serigati atualizou os dados de mercado da venda de suplementos minerais no país. A ASBRAM reúne 62% das empresas do setor. No mês passado, foram comercializadas 230 mil toneladas, recuo de 6,9% sobre setembro de 2021. No acumulado deste ano, o total alcança 1,93 milhão de toneladas, 6,7% abaixo dos nove meses iniciais do ano passado. “É uma retração que persiste. E que deve marcar posição até encerrar 2022. O que pode mudar é o número, de acordo com a performance da indústria neste último trimestre. No pior cenário, as vendas chegam a 2,43 milhões de toneladas e o tombo fica em 7,5% sobre as 2,55 milhões de toneladas de 2021. No panorama mais otimista, serão comercializadas 2,54 milhões de toneladas. Neste caso, a contração marcará 3,2%. Prefiro arriscar um palpite que fica no meio do caminho: 2,5 milhões de toneladas vendidas e mercado encolhendo 5,4% em relação a 2021”, calculou Felippe.

O professor ainda disse que o Brasil ajustou a economia na frente da maior das potências, elevando a taxa de juros, e conseguiu baixar a inflação. E vamos chegar ao Ano Novo crescendo mais do que a Alemanha e com inflação menor do que os Estados Unidos. “Quem poderia imaginar um número assim? Mas tem muita casca de banana no meio deste caminho. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mundo vai fechar 2022 com crescimento de 3,2% na média, porém, em 2023, a velocidade diminui. Apenas 2,7% na média, sendo que um terço dos países vai registrar recessão técnica em algum momento do período. Sem falar que as economias avançadas estão se comportando como países emergentes. Aumentando gastos enquanto enfrentam uma crise energética seríssima e uma guerra entre Rússia e Ucrânia no front europeu. Logo, não é errado pensar em guerra cambial, inflação galopante, bancos centrais defendendo as moedas em uma trincheira isolada. É atenção máxima com gestão, mercado, custos e números dentro do Agronegócio do Brasil”, concluiu.

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