Insistir em áreas estratégicas, como a formação de bons e qualificados profissionais. Investir tudo na saúde dos solos, das plantas e das pessoas. Correr atrás do aumento expressivo da produção de alimentos porque as novas populações vão precisar comer. Os três temas dominaram totalmente os debates do segundo dia do One Agro 2023, evento organizado pela Syngenta Proteção de Cultivos em Campinas (SP), no Hotel Royal Palm, nesta terça-feira e quarta-feira. E que reuniu em torno de 1,2 mil profissionais que atuam no Agronegócio brasileiro, representando 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do segmento, 1/3 da área total cultivada no país e metade dos lavradores que atuam no Cerrado. Sob o tema ‘Agro Protagonista, Estratégico e Sustentável’, os principais líderes da cadeia produtiva, autoridades e especialistas do setor debateram e traçaram caminhos para um setor ainda mais produtivo, sustentável e tecnológico, em um momento ímpar do mundo, marcado por múltiplas crises, uma complexa geopolítica e pressões econômicas, sociais e ambientais.
O ‘One Agro 2023’ foi estruturado em três painéis. O primeiro foi realizado ontem, dia 13, com o título ‘O Agro protagonista’, que tratou da visão do segmento em relação à atividade, ao mundo financeiro do Brasil e aos Clientes do Campo Brasil. Nesta quarta-feira, o segundo painel abordou o ‘Agro estratégico’ e foi moderado pelo economista Alexandre Mendonça de Barros. O objetivo foi analisar os movimentos, as conexões e os rumos a serem tomados para que o agro brasileiro continue protagonista e estratégico no futuro próximo. “Já foram lançados 34 Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros), que significam um estoque de R$ 8,3 bilhões. Só neste ano, 281 mil investidores acreditaram nesses papéis. Outros optaram por colocar dinheiro no campo por meio do mercado futuro de dólar, de commodity, das cédulas verdes e dos badalados créditos de carbono. E o mercado ainda prepara novas alternativas de crédito nas áreas de Educação e sustentabilidade”, contou o Vice-presidente de produtos e clientes da B3, Juca Andrade.
A mensagem foi endossada por Jeff Rowe, Presidente Global Proteção de Culturas da Syngenta. “Estamos desenvolvendo modelos e tornando as pessoas mais ricas, com inovação, usufruindo da diversidade de pensamentos e investindo em educação. Identificando as oportunidades para alavancá-la. Queremos ser uma empresa de soluções para o futuro da humanidade”, completou. Postura mais do que exaltada por Pedro Valente, Diretor do Grupo Amaggi, Um dos três maiores conglomerados empresariais do agronegócio do Brasil, que produz e exporta grãos para vários países do mundo. “Nossa empresa pratica atualmente 100% de rastreabilidade no algodão. Esse tema é mandatório para mim e falo isso há mais de oito anos. E temos que olhar com orgulho para o que o Brasil faz. Produzimos tanto em apenas 9% do território. E ainda temos áreas de pecuária para reutilizar. O Arco Norte não era nada há 10 anos e hoje transporta 39% da nossa safra, lá pelo Norte-Nordeste. Porém, outra tarefa inadiável é nos aliarmos a quem luta pela melhoria da educação. Necessitamos de um programa de estado para os próximos 20 anos. É só pensarmos. Temos acesso a tudo. Capital, tecnologias. Mas, e as pessoas? De que adianta termos tanta tecnologia sem gente para operá-la?”, indagou enfaticamente.
Outro recado mais tradicional ainda foi lançado pelo ex-secretário especial do Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia no governo de Jair Bolsonaro, Marcos Troyo, que acaba de deixar a presidência do banco dos BRIC´s (Novo Banco de Desenvolvimento, NDB na sigla em inglês. Grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e agora vai ser acadêmico visitante na Universidade de Oxford. “Para mim, existem dados hoje que fundamentam ações futuras muito simples e claras. A população mundial vai crescer mais de dois bilhões de pessoas até 2050. Principalmente, na Ásia, África e um pouco nos Estados Unidos. Apenas nove países. É uma nova China em 27 anos. Gente que simplesmente vai comer mais. Logo, a produção agrícola precisa crescer exponencialmente. E, para isso, o Brasil precisa olhar sua inserção comercial olhando mais para os países emergentes do que os mais ricos”, sentenciou.
O terceiro e último painel teve como ponto de debate o ‘Agro Sustentável’, uma visão de futuro para o segmento ser ainda mais eficiente e sustentável. Participaram o cientista ganhador do The World Food Prize 2020, Rattan Lal, também vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2007 como integrante do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). O CEO Luiz Henrique Guimarães, da Cosan, empresa brasileira com negócios nas áreas de açúcar, álcool, energia, lubrificantes e logística. O presidente da Cooperativa Agrícola de Campo Mourão (Coamo), Airton Galinari. E o sócio-diretor da Scheffer, Guilherme Scheffer. A moderadora foi a jornalista Sonia Consiglio. “Temos vários compromissos, como sustentabilidade, é claro, mas privilegiamos a questão de como tratar as pessoas. Manter a segurança para colaboradores e à sociedade inteira em todas as nossas operações e ações. Até porque hoje o mercado já permite que consigamos incluir no preço do nosso produto o valor do carbono reduzido. O que ajuda ainda mais a gente a fazer um bom uso do solo por meio das tecnologias”, contextualizou Luiz Henrique Guimarães. O panorama positivo para o meio ambiente foi ainda mais ratificado por Guilherme Scheffer, cuja empresa atua com algodão, grãos e produtos biológicos no Brasil e na Colômbia. “Nosso projeto de agricultura regenerativa tem mais de sete anos. Começou quando refletimos sobre nossos gastos, levantamos o problema e vimos que a operação estava gastando demais, ficando mais complicada. E adotamos uma nova abordagem para o mercado, com valor agregado para toda a cadeia. E ainda evoluímos para a produção de biológicos. Nossa meta, hoje, é até 2030 sermos 100% regenerativos”, prometeu.
Já Airton Galinari trouxe a discussão para o terreno das pequenas propriedades e para a atuação local como motor de desenvolvimento, inovação e inserção nacional e internacional. “A viabilidade econômica das famílias rurais mais carentes é muito mais efetiva com o cooperativismo do que com o empreendedorismo individual. Sem falar no poder de decisão democrático e na distribuição dos lucros. A cooperativa faz o social, distribui riqueza e tecnologia. A Coamo faz isso em pequenas e médias cidades. E com a preocupação ambiental”, comemorou.
E o ambiente que marca qualquer produção agrícola foi a escolha de exaltação do cientista Rattan Lal, que exortou a plateia a defender a ideia do carbono ser inserido de vez na atmosfera, trabalhar com vegetação nativa, florestas, estoques não destruídos, controlar a erosão. “Podemos ter sucesso em 25 anos. O solo é como uma conta bancária. Se quiser carbono, assim como o dinheiro no banco, precisa colocar mais no solo. Evitar as perdas com desertificação, decomposição, lixiviação. A biota do solo é a bio máquina do planeta Terra. Temos que saber o que estamos tirando do solo. O solo tem direitos. Destruir o solo é destruir a civilização. Temos que curar a natureza assim como curamos as pessoas”, conclamou.
O One Agro 2023 mergulhou no desafio ‘Agro Protagonista, Estratégico e Sustentável’. Líderes da cadeia produtiva, autoridades e especialistas traçando caminhos para um futuro mais produtivo, sustentável e tecnológico. “Nosso objetivo é apresentar palestras e painéis que ajudem os atores da cadeia produtiva a entendermos como nos posicionar corretamente e construir estratégias para a nova agricultura”, explicou André Savino, Diretor da Plataforma Digital Synap, da Syngenta. “Permaneceremos sendo um agro-protagonista, estratégico e sustentável. Tendo a inovação, produtividade crescente e a transformação como elementos essenciais”, emendou Luciano Daher, Diretor Comercial da Syngenta.
Desde a primeira edição, em 2019, o One Agro marcou o cenário do agro. Na primeira, um marco importante foi a criação do ‘Compromisso One Agro’ e do ‘Conselho One Agro, iniciativas que incentivaram e viabilizar a evolução do setor por meio de ações concretas e estratégicas. Naquele ano, o tema foi ‘Grandes líderes por um grande agro’. Em 2021, ‘Juntos, líderes cultivando inovações’, numa edição virtual. No ano passado, o tema foi ‘Grandes líderes conectados em um mundo em evolução”. “O Agronegócio brasileiro vai permanecer como um dos pilares da economia, uma verdadeira potência, com capacidade e larga escala. Estaremos com vocês produtores em todos os momentos dessa jornada”, garantiu Juan Pablo Llobet, Diretor Geral da Syngenta para a América Latina.